PLANTÃO ÚLTIMO SEGUNDO

27 dezembro 2007



Lésbicas ainda são discriminadas na sociedade

Fagner Abrêu *


A palavra homossexualidade foi criada em 1869, pelo escritor e jornalista austro-húngaro Karl-Maria Kertbeny. Seu termo é derivado do grego homos que significa igual ou semelhante, segundo o dicionário Aurélio.

O Portal Rio Vermelho mergulha no universo da homossexualidade feminina, ao longo da história e na atualidade. Fagner Abreu entrevista lésbicas assumidas, que contam como enfrentaram e ainda enfrentam o preconceito que a sociedade impõe ao amor entre pessoas do mesmo sexo.

O lesbianismo existe desde o princípio da humanidade. A poetisa Safo foi a primeira representante do amor entre mulheres registrada pelos historiadores. Ela viveu entre os séculos VI e VII a.C. na Ilha de Lesbos, que era o lugar onde se cultuava a beleza feminina. O local era famoso por abrigar as mulheres mais belas e também para onde iam as que não queriam se casar. Nessa época as práticas homossexuais eram aceitas sem restrição.

Quando a religião tornou-se o centro do conhecimento, as práticas homossexuais eram consideradas heresias. Mulheres que praticavam a homossexualidade eram condenadas pela Santa Inquisição e queimadas na fogueira. Apesar das mudanças radicais que estão acontecendo no Brasil e no mundo, com as lésbicas assumindo sua sexualidade, elas ainda hoje são alvo de muita discriminação.

E a discriminação geralmente começa no próprio lar, depois se estende à escola e ao trabalho. Andréas Andrade, estudante, 19 anos, afirmou que em sua casa foi complicado a aceitação. Houve muita discussão com a família. “Assim, logo no início, a reação foi péssima, mas grande parte pelo fato de eu na época estar andando com pessoas que minha mãe não gostava, por ela descobrir que eu estava bebendo, enfim, ela associou a opção com o comportamento. Eu fiquei um mês sem celular, telefone, internet... nada. Só do colégio pra casa e de casa pro colégio. Mas, aos poucos eu tive que ir reconquistando a confiança dela e mostrando que uma coisa não tem nada a ver com a outra e hoje em dia as coisas estão bem melhores.”

Os pais não conseguem entender o motivo da opção sexual dos filhos. Daniela Aparecida, 42 anos, bancária, tem uma filha lésbica. Ela afirma que não consegue aceitar a opção da filha, mas respeita. “Quando minha filha me disse que era lésbica, eu queria morrer. Não consigo aceitar a opção dela sexualmente, mas eu não posso fazer nada porque acima de tudo ela é minha filha.”

Na escola, faculdade ou trabalho ainda há quem discrimine e faça piadas e use termos pejorativos como sapatão, bolacha, sabão.

Algumas empresas já estão concedendo benefícios, como planos de saúde a parceiros de seus funcionários homossexuais. O Banco HSBC, por exemplo, já permite a inclusão de companheiros e companheiras do mesmo sexo de seus funcionários no benefício de planos médicos e odontológicos.

Certos órgãos governamentais também estão fazendo o mesmo. Por exemplo, uma estrangeira lésbica que estabelecer uma relação estável com uma cidadã brasileira tem direito, desde 2004, ao visto de residência, temporário ou permanente, no Brasil. O mesmo é válido para casais homens.

Mulheres lésbicas, não têm, necessariamente, aparência e comportamento masculinizados, como a discriminação da sociedade tenta fazer crer. A novela global, Senhora do Destino, trouxe à tona o lesbianismo de duas mulheres bonitas e femininas, Eleonora e Jenifer, vividas pela atrizes Mylla Christie e Bárbara Borges.

Salvador é roteiro gay

A capital baiana é considerada um dos principais pontos de desembarque para férias de turistas gays no Brasil. Perde apenas para o Rio de Janeiro e está à frente de Recife, segundo a agência de viagens CVC.

A Bahia com suas belas praias do litoral norte e Salvador com seus bairros boêmios faz com que os gays e lésbicas adorem o estilo de entretenimento que a cidade proporciona.

Para ficar mais à vontade, as lésbicas preferem freqüentar ambientes GLS. Em Salvador, o Garcia com o antológico Beco dos Artistas, a Barra, o Rio Vermelho, a Praia dos Artistas e a Praia do Flamengo são lugares preferidos pelo público homossexual.

No bairro da Barra existe a casa de show GLS, OFF Club. A OFF, como é conhecida, é o local onde as lésbicas, gays, travestis se reúnem para se divertir e rever amigos. No Rio Vermelho, recentemente o Lounge Babalotim declarou ser um bar GLS. Para Bruna Lima, 20 anos, estudante, o Babalotim permite o que outros lugares públicos não deixa. “No Babalotim eu posso fazer demonstração de carinho com a minha namorada, beija-la, coisas que ambientes com shoppings não cairia bem,” afirmou.

O Rio Vermelho pela sua história, por ser um bairro boêmio, se tornou um point de parada para as lésbicas de Salvador. O Bar Boomerangue abriu as portas para o público, que está crescendo em grande proporção. Sempre acontecem festas no Bar voltado para o ambiente GLS da cidade.

A Dj e advogada Anne Louise, afirmou que é sempre bom tocar para o publico GLS. “As mulheres me transformam em uma diva e querem uma aproximação maior. Eu me sinto bem.”

O período de alta estação, de dezembro a fevereiro, é considerado o de maior proporção do universo lésbico na cidade. “É um público ligado às tendências, moda e música, geralmente, fora do padrão comercial” afirma.

Anne Louise acha que o bairro do Rio Vermelho, de certa forma, está se transformando em GLS, é antologicamente boêmio e assim entra no circuito do público lésbico. “São pessoas que você vê o modo de trajar diferente, que gostam de músicas diferentes e acho que por isso” afirmou a DJ.

Patrícia Machado, 25 anos, advogada, afirma que o mundo lésbico tem crescido gradativamente. “As pessoas estão respeitando mais as diferenças, ou melhor, a opção dos outros. Cada um tem o direito de viver a vida que quer”. Já é comum, em Salvador, ver lésbicas em ambientes que antes jamais se poderia pensar, como shoppings.

Laura Finocchiaro, cantora bissexual, autora do “Hino à Diversidade” tema da última Parada Gay de São Paulo, diz que “todos os homossexuais – masculino ou feminino – para serem aceitos, têm que sair do armário”. Para ela, não adianta esconder sua opção sexual, pois a felicidade não virá. Para o gay ser aceito, tem que se aceitar primeiro.

* Fagner Abreu é estudante de jornalismo, estagiário.

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Roteiro GLS no Rio Vermelho:

BARES:
Casa 8 Bar e Galeria: Rua Fonte do Boi, 8 - Rio Vermelho
Babalotim Lounge: Praça Brigadeiro Faria Lima – Rio Vermelho
Bumerangue: Avenida Oceânica, Praia de Santana – Rio Vermelho

RESTAURANTES:
EXTUDO RESTAURANTE: Rua Lídio Mesquita, 04 – Rio Vermelho
Sushi Deli: Rua Fonte dos Bois, 16 – Rio Vermelho


Roteiro GLS em outros bairros

BARES:
Ancora do Marujo: Rua Carlos Gomes, 808 – Centro
Atlântico Café: Beco dos Artistas, s/n – Garcia
Baladas Club: Rua das Algarobas, 150/1101 – Pituba
Café del Mar: Rua Miguel Burnier, 25 – Barra
Café Piaf Creperie Bar e Restaurante: Rua Pará,448 – Pituba
Camarim Bar e Restaurante: Av. Cerqueira Lima nº10 – Garcia
Personas Bar: Beco dos Artistas, 15 – Garcia
Tche Mate Bistro Bar: Rua Miguel Burnier, 25 – Barra
Touche Creperia: Rua Belo Horizonte, 114 Jd. Brasil - Barra

BOATES:
OFF CLUB: Rua Dias D’avila, 33 – Farol da Barra
Tropical News: Rua Nilton Prado, 24 – Gamboa de Cima
Caverna: Rua Carlos Gomes, 616 – Centro
Clube Gay Queens: Rua Teodoro Sampaio, 160 – Barris

RESTAURANTES:
Al Carmo: Rua do Carmo, 66 – Santo Antonio
Bate Boca: Alameda Antunes, 56 – Barra Avenida
Cantina da Lua: Rua Terreiro de Jesus, 2/n – Pelourinho
Creperê: Caminho do Farol de Itapuã
Maria Mata Moura: Rua Inácio Accioli, 8 – Pelourinho
SENAC/Pelourinho: Largo do Pelourinho, s/n – Pelourinho
Trapiche Adelaide: Praça dos Tupinambás, Avenida Contorno – Comércio

BARRACAS DE PRAIA
Aqualoca: Praia de Itapuã
Barraca Aruba: Praia dos Artistas, Boca do Rio
Barraca República: Praia dos Artistas
Barraca Goa do Sal: Praia de Itapuã
Barraca Marguerita: Praia do Flamengo

Fontes:
http://www.ggb.org.br/
http://www.guiagaybrasil.com.br/
http://www.offclub.com.br/