PLANTÃO ÚLTIMO SEGUNDO

19 agosto 2008

Paratleta baiano é esperança de medalhas em Pequim

O campeão baiano de triátlon de 1998, Marcelo Collet, à época com 17 anos, fora convocado para disputar o mundial da modalidade na Suíça. O sonho foi interrompido por um acidente, envolvendo um carro e sua bicicleta, enquanto treinava na Avenida Magalhães Neto. O farol do carro atingiu sua perna esquerda, na altura do joelho, lesionando o nervo ciático, causando perda de parte da musculatura da perna. Começava aí a longa trajetória de superação do atleta que vai representar a Bahia nas Paraolimpíadas de Pequim.

A vontade de voltar a competir era tamanha que apenas quatro meses após a cirurgia, mesmo sem poder se movimentar direito, Collet caiu na piscina para fazer a fisioterapia e voltar a nadar. “Com o acidente eu perdi o movimento e a sensibilidade na perna esquerda. Tive que reaprender a utilizar meu corpo”, relata.

Sem condições para continuar no Triátlon, Collet investiu na natação paraolímpica. “Com o acidente eu acabei partindo para caminhos diferentes, conhecendo o esporte paraolímpico e, a partir daí, consegui renovar os meus objetivos”, conta o atleta.

Com o apoio do Comitê Paraolímpico Brasileiro e do Programa FazAtleta, Marcelo Collet já conquistou títulos importantes. No ParaPan Rio 2007, foi bronze em três provas individuais e ouro em revezamento. Agora, aos 27 anos, o atleta se diz pronto para disputar as Paraolimpíadas de Pequim, marcadas para o início do próximo mês. Para aumentar suas chances, ele treina no México, pois em altitudes elevadas o ar se torna rarefeito, sendo a oferta de oxigênio menor. Com isso, o corpo humano aumenta a concentração de glóbulos vermelhos o que ajuda a transportar melhor o oxigênio. “É a primeira vez que estou fazendo este tipo de treinamento. Já é uma técnica que vários atletas vêm usando para obter melhores resultados”, explica.

Falta de estrutura compromete presente e futuro do esporte em Salvador

Em pleno ano olímpico, a população de Salvador se depara com um problema que envolve a prática do esporte em todas as modalidades. A falta de infra-estrutura dos estádios e ginásios faz com que atuais e futuros atletas tenham dificuldades para evoluir do amadorismo para o profissionalismo, não conseguindo disputar grandes campeonatos.

No final de 2007, o Estádio Octávio Mangabeira, a Fonte Nova, foi interditado depois do acidente no jogo entre o Bahia e o Vila Nova, quando sete pessoas morreram após o desabamento da arquibancada. Com a tragédia, e por não apresentar dimensões oficiais, de acordo com os padrões nacional e internacional, o Ginásio Antonio Balbino (o Balbininho) foi também interditado.

Assim, não há espaço para o treino nas modalidades como basquete, vôlei, futsal e handebol, e não há como trazer eventos esportivos, além do futebol, para a capital baiana. “Nós estamos abaixo da crítica em relação ao resto do País”, afirma o presidente da Federação Baiana de Futsal, Hylberto Almeida. “Em Salvador, nos esportes de quadra, não vamos a lugar nenhum por falta de um ginásio esportivo”, acrescenta.

Em relação à natação não é muito diferente. Na cidade, existe apenas uma piscina com dimensões olímpicas, a do Parque Aquático da Bahia (Fonte Nova), que corre o risco de ser desativada. “Com o fechamento da Associação Atlética da Bahia e do Clube Português, perdeu-se duas piscinas olímpicas, sobrando apenas a Vila Olímpica, que, com o problema da Fonte Nova, também está ameaçada. Se tiver obras, a gente vai ficar sem piscina olímpica”, alerta o nadador Marcelo Collet, representante baiano nas Paraolimpíadas de Pequim.

O Governo da Bahia mantém o Programa FazAtleta, que tem o objetivo de estimular a formação e desenvolvimento de novos atletas, mas que não prevê a criação e ocupação de espaços apropriados para isto. Assim, o programa se torna ineficiente.

“Salvador por muitos anos foi uma cidade voltada apenas para o Carnaval e festas populares e se esqueceu de investir no esporte”, afirma Bruno de Barros, assessor chefe da Secretaria Municipal de Esporte e Lazer de Salvador (SMEL). A secretaria, com a intenção estimular novos atletas, estuda a criação de uma arena esportiva multiuso – com piscina, pista de atletismo e quadra poliesportiva. “O processo de criação desta arena já está na fase de contratação e provavelmente será no subúrbio de Paripe”, informa Barros.

A Secretaria de Esporte também anuncia que desenvolve estudos para a criação de um centro de formação de pugilistas. “Nós queremos trazer para Salvador um centro de alto rendimento para o esporte, pois temos uma safra muita grande de atletas aqui na cidade”, afirma Adonias Rios, coordenador de Lazer e Entretenimento da SMEL, com base no fato de que cinco dos oito atletas brasileiros convocados a Pequim são da capital.

Para Marcelo Collet, a falta de infra-estrutura para a prática de esportes pode impedir a transformação de promessas em talentos. “Uma coisa básica no esporte é a infra-estrutura e se não tiver, a gente não vai colher frutos como Allan do Carmo (maratona aquática), Verônica Almeida (natação paraolímpica) e eu”, diz.