
Relatos de um Mago
Dia 8 de abril de 2007, o Brasil deparou com um quadro do programa Fantástico da Rede Globo, em que a cada semana tratava sobre um assunto tido como polêmicos, sobre o preconceito. Preconceito de todos os tipos, seja quanto a cultura negra, ao seu modo de vestir, aos gays, etc. A primeira chamada do programa começou com uma frase de Zeca Camargo muito sugestiva. “Em um mundo moderno, que se orgulha de ser livre de qualquer discriminação, tem gente que ainda não pode assumir sua identidade cultural. Será que não precisamos revisar os direitos civis?”
Foram vários depoimentos mas um me chamou a atenção. Paulo Magalhães de Magalhães, publicitário, 23 anos, morador da cidade de Salvador. Paulo fez um vídeo pra seu namorado, Flaviano, demonstrando todo seu amor. Esse esta disponível na internet. Mas seria necessário tal abertura ao publico para demonstrar sua sexualidade?
O antropólogo Sergio Carrara concorda com a idéia de que algumas pessoas fazem concessões para serem aceitas na sua diferença. “Você tem que misturar na massa, você tem que ficar indistinguível. Você é aceito, desde que se enquadre em certos padrões de respeitabilidade”, disse Carrara. Isso gera um outro problema para o mundo homossexual, ou seja, uma espécie de preço pago para que a sociedade aceite o gay, que é ser discreto.
O gay não pode demonstrar seu carinho em publico para o seu companheiro (a) que já é visto com maus olhos sendo motivos de chacotas e piadinhas. Então surge uma pergunta. Por que os gays não podem demonstrar seu carinho em publico com os outros?
Paulo Magalhães responde essa questão muito facilmente, a partir do momento em que ele resolve enfrentar todos os padrões que a sociedade impõe como certo e declara todo seu amor ao seu namorado através de um vídeo com uma musica sugestiva e fotos do casal. “Se um heterossexual pode colocar a foto da sua namorada, por que eu não posso colocar a foto do meu”, interroga Paulo.
O que acontece é que os homossexuais crescem sem ter a oportunidade de explorar suas afetividades e sexualidades de forma natural e espontânea, como fazem os héteros, passando a acreditar que a diferença esta diretamente associada à solidão e ao abandono.
Será que é somente na Parada Gay que os homossexuais devem mostrar quem eles são? Onde estão os direitos iguais que tanta gente abre a boca na televisão e que na pratica não acontece. O preconceito somente irá diminuir quando o gay realmente mostrar quem ele é, suas qualidades. De um certo modo, ele mostra a importância de você ter espaços de convivência onde todos são iguais, em um certo sentido, onde a diferença não seja levada ao extremo da incomunicabilidade.
Assim Paulo Magalhães conseguiu o seu status em sua profissão e emprego. Se relaciona com seus colegas sem precisar esconder sua sexualidade, negá-la, que geralmente é imposto para limitar sua identidade sexual. “Assumo porque, por traz de minha orientação sexual, tem meu talento, tem o meu caráter. Então eu acho que isso deve prevalecer”, disse Paulo.
Os ambientes de trabalho muitas vezes, ou melhor, na maioria das vezes demonstra uma verdadeira burocracia na contratação de seus profissionais, onde muitas vezes a opção sexual e revista. Décio Actis, gerente administrativo e chefe de Paulo, diz que eles não trabalham com o preconceito, mas com o profissional.
O gay tem que realmente se impor perante a sociedade, mostrar que por traz da sua opção sexual ele é um ser humano dotado de sentimentos, direitos e deveres que devem ser cumpridos. Tem que “arregaçar as mangas” e lutar pelo que o faz feliz.
O mundo tem que parar com a hipocrisia de achar que o padrão imposto é o certo, e que na pode ser contestado. Cada qual segue o caminho que quiser sem ter que esconder pra não ser achado. Não vivemos em uma guerra, onde temos que seguir o que um general dita que seja certo. A personalidade própria tem que ser valorizada e identidade mantida. Ser gay não é melhor nem pior que ser heterossexual, mas sim uma forma de aceitação sexual que deve ser respeitada. Se gay quer ser visto de forma natural, comum, ele tem que agir de forma natural.
Para finalizar uma frase de James Baldwin que na literatura afirmou sua sexualidade: “Se você não vive sua própria vida, não é como se vivesse a de outra pessoa: você acaba não vivendo vida nenhuma.”
Fagner Abreu