
Recentemente a Igreja Católica Apostólica Romana, entidade criada pouco antes da Idade Média, com o intuito de explicar e coordenar a vida das pessoas excomungou uma família e os médicos de um hospital em Recife quando foi feito um aborto em uma criança – grávida de gêmeos – fruto de abuso sexual infantil, a pedofilia.
Esta entidade secular, que entra Papa e sai Papa, continua com o mesmo pensamento da era da inquisição.Ao defender a vida, queria por em risco a vida da mãe dos bebês, uma criança de nove anos. Com um discurso inflamado e ignorante, o bispo de Recife, excomungou toda a família, discurso que pode ter sido colocado na cabeça de algumas pessoas e que, ao lado do Santo Padre, pode ter influenciado algumas pessoas a pensar igual. Lendo Michel Foucault passei a perceber o quanto falar pode ser perigoso.
Foucault diz que o discurso está na ordem das leis; que há muito tempo se cuida de sua aparição; que lhe foi preparado um lugar que o honra, mas o desarma. E concordo plenamente com ele. Exemplifico essa passagem dizendo que em muito fácil condenar uma pessoa, apontar o dedo, sem olhar para si mesmo, e que o mesmo pode acontecer consigo. Os políticos, por exemplo, costumam chamar um ao outro de corrupto, de ladrão, desonesto. Lembro-me agora de um caso peculiar do Senado brasileiro, quando Antonio Carlos Magalhães, presidente da Casa, acusou o senador Jader Barbalho (PMDB-Pará) de corrupto, devido a denuncia ocorrida na Superintendência de Desenvolvimento do Amazonas (SUDAM). Este mesmo político, poucos dias depois, foi acusado burlar o painel eletrônico de votação do senado, (votação secreta) e fazer chantagem com a senadora do PT Heloísa Helena.
Aplicando Foucault para os dias atuais trago o tabu do objeto ao analisar o filme Alexandre, um filme de Oliver Stone. Na Grécia antiga, homem dormir com homem, o homem beijar a boca do homem, um homem poder amar outro homem era comum e não era condenado pela sociedade. Alexandre era apaixonado por Heféstion e segundo Ptolomeu ele jamais foi derrotado, exceto pelas coxas de Heféstion. Exemplifico um dos procedimentos de exclusão ao analisar o comportamento de minha avó ao ver uma passagem do filme quando o professor de Alexandre fala sobre o amor de Aquiles por Pátroclo e termina dizendo: “Quando homens se deitam juntos por luxúria estão se rendendo as paixões e nada acrescenta para a nossa excelência. Mas quando os homens se deitam juntos e trocam conhecimento e virtude, isto é puro e excelente. Quando eles competem para obter o melhor um do outro esse é o amor entre os homens que pode construir uma cidade-estado e nos tirar dessa vida desta vida medíocre.” Minha avó se recusou a assistir ao filme induzida por uma realidade vivida por ela em que o homem nasceu para a mulher e vice-versa. Não se eu é que estou velho ou se Foucault enxergou muito tempo adiante quando fazia seus discursos.
José Saramago, ao iniciar o livro Ensaio Sobre a Cegueira, diz: “Se tem olhos ver. Se ver, repare”. Muitos de nós não enxergamos a nossa própria realidade, o que nos esta em volta devido a um discurso em que os oprimidos, os pobres, os fedorentos são os excluídos da sociedade e nada podemos fazer para reverter. Será?!
O discurso que remete a sexualidade ainda é um tabu a ser quebrado. Foucault diz em a Ordem do Discurso, que o discurso está longe de ser esse elemento neutro ou transparente no qual a sexualidade desarma e a política se pacifica.
Na era Cristã, a sexualidade é reprimida. O prazer é proibido, seja ele qual for. O homem não conhece seu próprio corpo. Voltando a Igreja Católica, a verdade defendida por ela para se chegar ao reino dos Céus, acaba revelando um Deus malvado e que o castigo é a única forma de punição, tendo em vista a busca do prazer.
Esse paradigma quebra quando os renascentistas fazem uma revolução na Idade Moderna. Foucault diz que a vontade de saber o que prescrevia o nível técnico do qual deveriam investir-se os conhecimentos para serem verificáveis e úteis começa a partir da grande divisão platônica, a vontade da verdade tivesse sua própria história (...). O filme o Código daVinci mostra uma outra verdade sobre a vida de Jesus que muitos acreditam. E não penso que tenha que ser condenado. Cada um aceita, cada um faz o seu discurso.