
Indignado ao ouvir a expressão “unificação da língua portuguesa”, Bagno salienta que o pacto altera exclusivamente as normas ortográficas, mas não extingue a variedade fonética. “Os brasileiros não vão passar a falar como os portugueses, nem os portugueses como os brasileiros, simplesmente porque vão passar a escrever do mesmo modo, assim como pernambucanos e gaúchos não falam da mesma maneira”.
Mas se o lingüista não prevê grandes transformações no uso cotidiano do português, o tom da resposta muda quando se trata da posição brasileira no cenário mundial. “O aspecto mais importante da unificação é político”, acentua Bagno. Ele acredita que o acordo revela uma mudança importante na balança do poder. “É preciso que os portugueses reconheçam sua absoluta desimportância no cenário internacional e admitam que quem manda hoje na língua portuguesa no mundo é o Brasil”.
Faltando apenas um mês para iniciar – de fato – a junção ortográfica e das gramáticas portuguesas, milhões de pessoas terão de se adaptar a uma nova forma de escrita. “A língua portuguesa é o terceiro idioma ocidental mais falado, após o inglês e o espanhol. A ocorrência de haver duas ortografias (portuguesa e brasileira, únicos países falantes do idioma a terem academias reguladoras da língua), dificulta e atrapalha a divulgação do idioma e possivelmente a sua prática”, afirma a educadora Zilene Souza.
Para o economista Eduardo Brito, o fato de existirem duas ortografias dificulta campanhas de divulgação do idioma pelo mundo, sua adoção em fóruns internacionais e a impressão de manuais de instruções em português. "O acordo é uma condição essencial para a definição de uma política externa de promoção da língua portuguesa e sua difusão".
As mudanças foram discutidas pelos membros da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP) desde 1990. Quase duas décadas depois, Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor Leste, terão, enfim, uma única forma de escrever.
Tão logo as novas regras entrem em vigor, inicia-se o período de transição, no qual ministérios da educação, associações, academias de letras, editores e produtores de materiais didáticos, gradativamente, vão reimprimir livros, dicionários, entre outros.
SARAMAGO É CONTRA
A reforma ortográfica não conquistou unanimidade entre grandes entendedores do idioma. José Saramago, único escritor da língua portuguesa a receber o Prêmio Nobel de Literatura, em entrevista concedida à Rede de Televisão Portuguesa (RTP), declarou-se francamente contrário às modificações. “Continuarei escrevendo sem incorporar as mudanças de grafia previstas”, afirmou.
Publicado no Folha Salvador
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