PLANTÃO ÚLTIMO SEGUNDO

19 outubro 2009

Morre a Mercedes Sosa, a "Voz da America Latina"

Aos 74 anos, morreu neste domingo a cantora argentina Mercedes Sosa, em Buenos Aires. A artista foi internada há três semanas por causa de um problema renal. Seu estado de saúde piorou com mais complicações hepáticas e pulmonares. Nos últimos dias, foi mantida sedada, respirando com a ajuda de aparelhos.

O corpo de Mercedes Sosa está sendo velado no Congresso Nacional, em Buenos Aires, e será cremado no cemitério de La Chacarita nesta segunda-feira. Uma parte de cinzas será espalhada em sua província natal, Tucumán, no norte do país. Outra parte será colocada em Mendoza, província a qual a cantora declarou grande amor. O restante das cinzas permanecerá na capital argentina, cidade onde morava há décadas.
Mercedes Sosa trabalhou intensamente até poucas semanas atrás. No ano passado, havia sustentado que continuaria cantando "até os últimos dias" da vida, tal como uma cigarra. A intérprete havia sido internada no dia 18 de setembro na clínica de la Trinidad, no bairro de Palermo.
Vínculo forte com brasileiros - Mercedes Sosa possuía um vínculo especial com o Brasil, país onde esteve dezenas de vezes e possuía muitos amigos. Com vários deles protagonizou duetos que entraram para a história da música latino-americana. Entre as parcerias, cantou com Chico Buarque, Milton Nascimento, Gal Costa, Beth Carvalho e Maria Rita.Último trabalho de Mercedes Sosa, o álbum duplo "Cantora", com participação dos baianos Caetano Veloso e Daniela Mercury, entre outros músicos, como Joan Manuel Serrat e Shakira, concorre a três prêmios do Grammy Latino de 2009. "Mercedes era uma querida, pessoa amável, doce, carinhosa. Uma mulher e uma intérprete extraordinária, sem dúvida um ícone da música da América Latina. Ela é uma referência como intérprete. Amo as canções que gravou, daquela maneira visceral. Acabei absorvendo muito sua postura de luta pela liberdade. É inquestionável a beleza e a importância dessa mulher e de seu repertório extraordinário", disse Daniela Mercury, amiga há anos da argentina e com quem interpretou "O que Será", de Chico Buarque.Shakira também analisou o legado de Mercedes Sosa pela mesma linha. "Ela deixa o mundo cheio de seus cantos, povoado de seus versos. Mercedes foi a voz maior e teve o maior coração para quem sofre. Foi a voz de seus irmãos da terra que elevou o canto da dor e da justiça. Sofreu o exílio, dando exemplo de coragem, e voltou com naturalidade a seu lugar de escolhida. Ela nos deixa a simplicidade de seu gesto e de sua dança, e a luz de sua palavra e de seu afeto", disse a cantora colombiana. A baiana Márcia Castro participou do último show de Mercedes Sosa em Salvador e lamentou muito a morte da colega. "Ninguém estava esperando, foi algo que pegou a todos de surpresa. Ela não estava legal já há algum tempo, mas, como tinha se recuperado de outras vezes, achei que fosse passar por mais essa. Infelizmente, isso não aconteceu. Ela foi uma das cantoras, das artistas mais generosas que conheci. Vivia música 24 horas por dia, acordava cantando, ia dormir cantando, se gostasse de uma música pedia para que a gente cantasse com ela. Era generosa, materna... Foi uma felicidade fazer com ela o último show em Salvador. Fizemos 11 shows entre outubro e novembro. Neste em Salvador, ela estava feliz, foi a única vez que me chamou para voltar ao palco, foi um presente para mim. Escuto Mercedes Sosa desde a adolescência, nunca imaginei que tocaríamos juntas, nem nestes shows nem na primeira vez. Foi dia 9 de julho de 2008, seu aniversário de 73 anos, em Roma. Fui com meu ex-empresário assistir à passagem de som. Ele e ela eram bem próximos. Já nos conhecíamos de São Paulo, tinha ido ao camarim dela, não imaginava que aconteceria isso. Ela disse: Márcia, você não quer cantar comigo 'Insensatez' e eu disse: 'Mercedes, eu não tenho roupa'. E ela, naquela generosidade grande me emprestou um daqueles xales grandões e nós cantamos no Teatro Santa Cecília, em Roma. Eu tinha até planos de visitá-la esse ano, ir a Buenos Aires, dar uma força...”.

Prisão durante show - A argentina Mercedes Sosa, apelidada por alguns de "A voz da América Latina", deixa aos 74 anos uma obra vasta e de forte temática social, após uma vida de resistência política misturada ao romantismo, com dezenas de parcerias importantes. Nascida em 1935 em Tucumán, no norte da Argentina, teve origem humilde e gostava desde cedo de interpretar canções folclóricas. Aos 15 anos, participou de um concurso de uma rádio com um grupo, quando a afinada cantora se destacou. O prêmio pela vitória foi um contrato de dois meses com uma emissora. Era o início da carreira.Na década de 1960, Mercedes participou do Movimento do Novo Cancioneiro, surgido em Mendoza e centrado na música popular latino-americana, com ênfase no componente social. Além de obter sucesso na Argentina, a artista ganhou palcos pelas Américas e também na Europa.A temática social e a ligação com a esquerda lhe renderam também dissabores. Em 1979, um show da artista foi invadido pelos militares, durante a ditadura argentina (1976-83). Não apenas ela foi presa, mas inclusive o público presente. Naquele mesmo ano, Mercedes decidiu se exilar."La Negra", como também era conhecida, voltou à Argentina em 1982, na fase final da ditadura. Na década de 1980, Mercedes realizou trabalhos em parceria com Milton Nascimento. Entre os brasileiros que também cantaram com ela estão ainda Caetano Velloso e Daniela Mercury.Na reta final, Mercedes ainda encontrava reconhecimento do público e da crítica. Seu último álbum, "Cantora 1", alcançou boa vendagem e foi indicado a três prêmios no Grammy Latino, com entrega marcada para 5 de novembro em Las Vegas. Entre os parceiros deste último trabalho estão artistas como Shakira, Fito Páez e Joaquín Sabina.Gracias a la vida/que me ha dado tanto...", a canção de Violeta Parra, considerada uma das fundadoras da música popular do Chile, ganhou versão definitiva na voz de Mercedes Sosa.

Fonte: A TARDE

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